No final de 2021, o Curso de Formação em Psicoterapia Psicanalítica formou a aluna Silvia Cristina Correia Ribeiro que desenvolveu uma pesquisa bibliográfica acerca do autismo sob a ótica da Psiquiatria e da Psicanálise sob orientação da professora Rosa Maria Batista Dantas. A seguir, conferimos um resumo de seu trabalho.

Várias são as discussões sobre as definições apresentadas para a  compreensão do autismo, tais como os aspectos genéticos, biológicos, relacionais, ambientais, culturais; Enfim, trata-se de considerar possibilidades multicausais para as origens do Transtorno Espectro Autista (TEA). Algumas publicações referentes à psicanálise sobre o que leva ao autismo causa grandes discussões acerca de hipóteses explicativas sobre esse transtorno que em alguns momentos engloba a questão da falha do circuito pulsional, a falha na alienação com o outro e não instauração do registro simbólico, entretanto, percebemos que não há uma única explicação a respeito do autismo. O que identificamos em comum entre elas é a existência de alguma falha ou de algo que não se efetiva na constituição psíquica da pessoa autista, porém há a observação de  uma causalidade significante produzida pela linguagem.

Na definição do conceito do autismo pela psiquiatria realizada pelo guia de classificação diagnóstica de transtornos, o último Manual de Saúde Mental (DSM 5), passou a integrar todos os transtornos do neurodesenvolvimento, fundindo-se em uma única classificação, o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Para psiquiatria as características essenciais do transtorno do espectro autista são prejuízos persistentes na comunicação social recíproca e na interação social e padrões restritos de comportamento. O estágio em que o período funcional fica evidente irá variar de acordo com as características do individuo e de seu ambiente.

Os déficits na reciprocidade socioemocional estão claramente evidentes em crianças pequenas com transtorno, que podem apresentar pequena ou nenhuma capacidade de iniciar interações sociais e de compartilhar emoções, caso tenha linguagem, costuma ser unilateral, sem reciprocidade social, usada mais para solicitar ou rotular do que para comentar, compartilhar sentimentos ou conversar.

Pelo olhar da psicanálise há alguns conhecimentos sobre o autismo.

Para Francis Tustin “os fenômenos autísticos caracterizam-se pela presença de um estado de “recolhimento emocional” no interior de uma concha protetora, autogerada. O self retira-se do contato afetivo com o objeto com o intuito de evitar vivências dolorosas que lhe acarretariam uma sensação de desagregação e vulnerabilidade intoleráveis. Os estados autísticos manifestam-se principalmente em indivíduos que apresentam sensibilidade extrema e uma autossensualidade exacerbada. Para tais indivíduos, a consciência da separação do objeto deu-se de maneira abrupta, sem que tivessem recursos para suportá-la. Essa separação seria vivida como se parte de seu próprio corpo tivessem sido arrancadas, acarretando experiências de aniquilamento, de buracos internos, de buracos negros.”

No entanto, Melanie Klein explicava o autismo levando em conta a inibição do desenvolvimento constitucional do bebê, o qual em combinação com as defesas primitivas levava a uma inibição do desenvolvimento do ego, a uma pobreza de vocabulário e também a uma dificuldade para realizações intelectuais, não apresentação de sinal de adaptação à realidade, nem de estabelecimento de relações emocionais com o ambiente, não expressão de afeto, não há reconhecimento nenhum do outro e raramente algum tipo de ansiedade. Apresentam movimentos descoordenados, expressões de olhos e rosto fixos. Essas crianças apresentam um fracasso das etapas iniciais dificultando a formação de símbolos, tornando-as imobilizadas, isoladas, sem relação com a realidade.

Ao pesquisar o DSMs, pode-se verificar que as classificações descritas nos manuais diagnósticos, constituem-se, no nível da fenomenologia, naquilo que se observa dos chamados sintomas, dentro do modelo médico.

A psicanálise vê o autismo como uma forma de estar no mundo, é um espectro no qual encontramos diversos graus que variam de leve, moderados e graves, considerando que os autistas têm dificuldades importantes em lidar com o mundo, seja no sentido amplo ou estrito e que suas famílias estão completamente envolvidas nestas dificuldades. São crianças que precisam de ajuda para saírem de seus mundos fechados, de sua concha protetora e encontrarem soluções próprias para estabelecerem algum nível de relação com o exterior. Alguns desses pacientes que apresentam estados autísticos comunicam–se predominantemente de forma não verbal, sobretudo da autossensualidade.

O trabalho completo pode ser consultado na Biblioteca “Alfredo Menotti Colucci” do Núcleo de Psicanálise de Marília e Região. Agende sua visita! Para mais informações: biblionpmr@gmail.com ou (14) 3413-3307 – (14) 99614-6782.

 

RIBEIRO, Silvia Cristina Correia. Autismo: um olhar da psiquiatria à psicanálise. 2021. 25 f. Monografia (Especialização) – Curso de Formação em Psicoterapia Psicanalítica, Núcleo de Psicanálise de Marília e Região, Marília, 2021.

Silvia Cristina Correia Ribeiro CRP 06/ 103686

Psicóloga pela Fadap – FAP
Formação em Psicoterapia Psicanalítica NPMR
Membro Agregado NPMR
Psicóloga Clínica

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