Julia G. B. V. Boselli
Sigmund Freud, 190×210 cm, Acrylic On Canvas, 2015-01, Voka
Esse mês comemoramos o Dia do Psicanalista. Profissão que escolhi e escolho todos os dias.
Freud tinha como habito escrever após seus atendimentos clínicos, o que, por consequência gerou uma grande obra epistemológica.
Hoje, inspirada por ele, vou escrever após um dia de atendimentos também. Deixo aqui uma pequena contribuição para não passar em branco essa data. Afinal, de branco e pálido não tem nada essa tal de psicanálise.
Como terapeutas sabemos o nome de quem iremos atender e até mesmo o horário do paciente. Mas, a realidade é que nunca sabemos quem entrará por aquela porta. O inconsciente não segue uma lógica cronológica e organizada.
Abrimos a porta e com nossa atenção flutuante encontramos angustias primitivas. Nos deparamos com aquela criança que o paciente utiliza de várias defesas para esconder. Esconde o desamparo vivenciado concretamente ou simbolicamente no passado e que até hoje ressoa.
Os sintomas dessas angústias estão aqui, no presente. O desamparo é vivido e atuado pelo próprio paciente, que repete na tentativa de elaborar o conflito. O paciente então trava uma luta (processo de análise) no lugar e horário apropriado para isso, a clínica.
O termo luta não me refiro no sentido de competição ou guerra, e sim, algo trabalhoso que envolve uma relação de intimidade em que o paciente pode recorrer à mente do analista.
Sem as lentes do psicanalista veríamos um adulto deitado no divã relatando seu dia; atrás dele, outro alguém ouvindo e apenas ouvindo. A verdade é que nós terapeutas estamos ali, fazemos parte ativamente da narrativa. Vivenciamos transferência e contratransferência durante toda sessão e usamos de diversas técnicas para maneja-las aproximando cada vez mais o paciente de seu desconhecido (inconsciente).
O terceiro analítico (termo de Thomas Ogden) que nasce dessa dupla paciente-terapeuta é intenso, colorido, dolorido e até mesmo estético. As cores são tão vivas que frequentemente o psicanalista vive as identificações projetivas do paciente.
O paciente, mesmo racionalmente entregue ao processo analítico, em sua ambivalência, luta para não ser amparado, pois é o modo que conhece até então. Como bem nos ensina Klein não podemos pensar em nada mais humano do que nossa dificuldade em amparar nossos desejos mais hostis.
Mas afinal porque no dia 6 de maio é comemorado o Dia do Psicanalista?
Em 6 de maio de 1856 nasce em Freiberg (atual República Tcheca) Sigmund Freud neurologista criador da psicanálise. Peter Gay, seu biógrafo, o descreve como um arqueólogo da mente.
Freud cria o método psicanalítico que consiste em evidenciar significado inconsciente das palavras, ações e produções imaginarias (sonhos, fantasias e delírios) de um sujeito. (Definição de Laplanche e Pontalis)
Então não bastaria estudarmos sobre a psicanálise? Por que precisamos do psicanalista? Em uma das cartas que trocadas com Fliess (colega médico e confidente) Freud afirma: “A verdadeira autoanalise é impossível, do contrário não haveria doença.”
Seria impossível travar uma luta com nós mesmos para quebramos nossas próprias repressões. Quanta vezes nos faltariam coragem de olhar ou confrontar? Tenderíamos ao princípio de nirvana sempre que possível.
E sim, é mais fácil ter coragem se temos o psicanalista preparado para estar nesse caminho tortuoso do desenvolvimento emocional. O terapeuta faz muitos esforços como estudo, supervisão e analise pessoal de alta frequência, para que esse caminho, ainda que em companhia, seja individual e próprio do sujeito. Sem gerar dependência ou estar munido de julgamentos morais.
“Um dia, quando olhares para trás, verás que os dias mais belos foram aqueles em que lutaste.” Freud
Feliz dia do Psicanalista aos terapeutas, mestres, supervisores e colegas.
Julia G. B. V. Boselli CRP:06/136769
Psicóloga clínica; Membro filiado Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo -SBPSP; Membro filiado ao NPMR – Núcleo de Psicanálise de Marília e Região; Graduada em Psicologia pela Universidade de Marília (SP) – UNIMAR; Especialista em Psicoterapia de Orientação Psicanalítica pela Faculdade de Medicina de Marília – FAMEMA.
Realizou Curso de Aprimoramento em Psicoterapia Psicanalítica pelo Núcleo de Psicanálise de Marília e Região.
Auxiliar Comissão de Cultura do NPMR;
Auxiliar Comissão de Avaliação de novos agregados NPMR;
Auxiliar Comissão do Serviço de Orientação e Encaminhamento (SOE) NPMR.