Excesso do uso de telas na infância: um perigo à vista

Excesso do uso de telas na infância: um perigo à vista

Vivemos em um mundo cada vez mais tecnológico, onde aparelhos conectados à internet estão mais acessíveis e presentes em todos os lugares. O celular, por exemplo, tornou-se indispensável no nosso dia a dia, oferecendo inúmeras facilidades por meio de aplicativos. A tecnologia é, sem dúvida, uma grande aliada em diversas situações. No entanto, como tudo na vida, o excesso pode trazer consequências negativas. E quando falamos de crianças, o impacto do uso exagerado da tecnologia pode ser ainda mais preocupante, já que estamos lidando com indivíduos em pleno desenvolvimento mental e emocional.

Vivemos em um mundo cada vez mais tecnológico, onde aparelhos conectados à internet estão mais acessíveis e presentes em todos os lugares. O celular, por exemplo, tornou-se indispensável no nosso dia a dia, oferecendo inúmeras facilidades por meio de aplicativos. A tecnologia é, sem dúvida, uma grande aliada em diversas situações. No entanto, como tudo na vida, o excesso pode trazer consequências negativas. E quando falamos de crianças, o impacto do uso exagerado da tecnologia pode ser ainda mais preocupante, já que estamos lidando com indivíduos em pleno desenvolvimento mental e emocional.Vivemos em um mundo cada vez mais tecnológico, onde aparelhos conectados à internet estão mais acessíveis e presentes em todos os lugares. O celular, por exemplo, tornou-se indispensável no nosso dia a dia, oferecendo inúmeras facilidades por meio de aplicativos. A tecnologia é, sem dúvida, uma grande aliada em diversas situações. No entanto, como tudo na vida, o excesso pode trazer consequências negativas. E quando falamos de crianças, o impacto do uso exagerado da tecnologia pode ser ainda mais preocupante, já que estamos lidando com indivíduos em pleno desenvolvimento mental e emocional.

Os efeitos do excesso de telas no desenvolvimento infantil

Quando a criança passa horas diante de telas, ela perde oportunidades valiosas de exercitar a criatividade por meio de brincadeiras tradicionais, como brincar de boneca, fazer comidinha, brincar com carrinhos ou encenar histórias com super-heróis. Nos jogos de vídeo-game ou nos vídeos do YouTube, tudo já vem pronto, não exigindo que a criança imagine ou crie cenários próprios.

Outro ponto preocupante é o isolamento social. O uso excessivo de telas restringe o contato com outras crianças, o que prejudica o desenvolvimento socioemocional. As interações com outras crianças são fundamentais para que a criança aprenda a se relacionar, resolver conflitos e entender a importância da convivência em grupo. Essas habilidades são cruciais ao longo da vida, seja no ambiente escolar, no trabalho, nas amizades ou nos relacionamentos familiares e amorosos.

Além disso, quando a criança fica muito conectada aos aparelhos eletrônicos, ela se desconecta da vida e de tudo aquilo que ela pode oferecer: as descobertas da natureza, a interação com outras pessoas, a exploração do ambiente ao seu redor e a criação de memórias que ajudam na construção de sua identidade.

Quando a criança brinca, ela também está lidando com as suas angústias. A brincadeira é uma grande aliada à saúde mental da criança, permitindo que ela elabore emoções, experimente papéis sociais e se expresse de forma criativa.

O papel dos pais no equilíbrio do uso da tecnologia

Cabe aos pais e responsáveis estabelecer limites e promover um equilíbrio no uso da tecnologia. Estimular brincadeiras que envolvam criatividade, movimento e interação social é essencial para o desenvolvimento integral da criança. Também é importante reservar momentos para atividades em família que não envolvam o uso de aparelhos eletrônicos, fortalecendo os laços e incentivando a troca de experiências.

E se você perceber que precisa de ajuda, busque um psicanalista ou psicoterapeuta de criança. A psicanálise é uma grande ferramenta para lidar com o sofrimento emocional, ajudando a criança a superar desafios e se desenvolver de maneira saudável.

A tecnologia pode ser uma aliada, mas seu uso deve ser consciente e moderado. O que está em jogo é o bem-estar e o futuro de nossas crianças.

Marcio Oldack

Psicanalista em formação integrada de criança, adolescente e adulto pelo Instituto Durval Marcondes da SBPSP; Membro Filiado do GEP Marília e Região; especialista em Psicoterapias de Orientação Psicanalítica pela Famema – Faculdade de Medicina de Marília; Psicólogo pela Unimar – Universidade de Marília.

A propósito do 13 de maio e chegando no 20 de novembro…

A propósito do 13 de maio e chegando no 20 de novembro…

No dia das mães, que ocorreu este ano (2024) no dia 12 de maio, comecei a pensar no dia 13 de maio de 1888, dia em que foi declarada extinta a escravidão no Brasil. Em nome de Sua Majestade o Imperador, o Senhor D. Pedro II, a Princesa Imperial Regente (Isabel) fez saber a todos os súditos do Império que a Assembléia Geral decretou e ela assinou e sancionou a lei.

PORÉM, nada, além disso, foi feito pelos “libertos”. A partir daí não tiveram nenhum direito legal garantido por lei. O que todo ser humano necessita? Direitos à educação, alimentação, segurança, trabalho, moradia, saúde e ser reconhecido como cidadão do lugar onde vive? Se nada disso foi minimamente garantido o que ocorreu com essas pessoas? Qual a qualidade de vida que passaram a ter? Qual o reflexo disso nos tempos de hoje? Paramos para pensar sobre isso? Creio que seria bom conversarmos a respeito disso. Poderá nos ajudar a entender alguns aspectos da cultura brasileira, na qual estamos todos imersos. Esse quadro abaixo, intitulado Mãe Preta, de Lucílio de Albuquerque, de 1912 me impressiona, entre outras coisas por que me faz pensar: O que mudou dessa realidade nos dias de hoje?

Ayabá é uma palavra Yorubá que significa grande mãe, “mãe rainha”, e no camdomblé, é o nome dado às Orixás mulheres. O poder feminino, que representam as forças da natureza, a gestão da vida e o poder do matriarcado, no caso, é toda forma de
dar força a uma mulher, de trazê-la a sua verdadeira essência, sua forma original, antes da sociedade determinar como ela deve se portar. In:Salles, Larissa Oliveira. Ayabas: o poder feminino. 202034f.,Il. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Comunicação)- Universidade de Brasília, Brasília, 2020

Conjecturei que chamavámos de babá pela presença das Ayabas. Só que não! A origem da palavra Babá vem do persa bābā (اباب(, que significa pai. Cada vez mais presentes na sociedade moderna, as babás são as responsáveis por cuidar das crianças a partir de 3 ou 4 meses de idade (sem especialização em enfermagem) na ausência dos pais. Postado em 02/04/2019. Google 23/05/2024,11:15h

Nos tempos da escravidão havia a Ama de leite, geralmente esse encargo era dado às escravas que já tinham filhos. Atualmente ama de leite é definido como a mulher que amamenta criança alheia quando a mãe natural está impossibilitada de fazê-lo.
Busquei fotos de babás na internet, e as imagens que apareceram foram de mulheres pretas ou pardas.

Fiquei intrigada e resolvi verificar qual a característica da população brasileira hoje. População aproximada do Brasil segundo as regiões. Baseada no Censo do IBGE 2022

Vamos verificar a porcentagem da população do Brasil do ponto de vista da cor da pele: Censo do IBGE 2022

Pardo segundo o IBGE: Se refere a quem se declara pardo e possui miscigenação de raças, com predomínio de traços negros. Preto é a pessoa que se declara preta e possui características físicas que indicam ascendência predominantemente africana.
População numérica, aproximada, do Brasil segundo a cor da pele. Segundo dados do IBGE 2022

Podemos dizer (a partir da constatação) que os pretos e pardos são maioria no nosso país, mas sabemos que não ocupam a maioria dos postos de trabalho que são melhores remunerados. Estes são ocupados por homens e brancos. Sabemos também que temos mais mulheres que homens na nossa população. Não chequei os índices, mas sabemos que as mulheres de uma maneira geral não estão nos cargos melhores remunerados. É algo para aprofundar no conhecimento. E o que dizer da população amarela e indígena?
Quando eu estava no ginásio participei do coral do colégio e nós cantávamos uma música de autor desconhecido, com a seguinte letra:

Negro clama liberdade
Negro não sabe o que é dor!
Negro não tem alma não.
Assim dizia o feitor…
Com seu chicote na mão.
Malvado banzo me mata
Quero a pátria voltar
Na minha terra sou livre
Como avezinha no ar.
Negro, Negrooooo
Como entendemos o racismo no nosso país, na atualidade. Nos tempos da escravidão instituída, os negros queriam voltar para sua pátria. Os pretos e pardos acima, nasceram aqui. Esta é sua pátria! Essa pátria os reconhece de forma plena? Têm os mesmos privilégios/chances que os brancos? Concordo com a psicanalista Josiane Barbosa de Oliveira da SBPRP quando nos diz: o racismo é um problema atual e não só um legado histórico. Para podermos mudar o racismo temos que ver o racismo entranhado em cada um de nós.
Josiane nos apresenta alguns modos de se pensar sobre o racismo:
1- O racismo não existe no Brasil
2- O racismo existe, mas não me atinge.
3- O racismo existe, me atinge, e vai se resolver sozinho.
4- O racismo existe, me atinge, não vai se resolver sozinho, mas não me diz respeito.
5- O racismo existe, me atinge, não vai se resolver sozinho e me diz respeito.
Outro dado é que 70% da nossa população não identifica o racismo que tem. Como a psicanalista Josiane eu credito que precisamos, para além de reconhecermos o racismo que temos, precisamos ser antirracistas, romper o silêncio, fazer algo para que a mudança ocorra.
Com nossos analisandos, podemos ver a influência do racismo estrutural na vida das pessoas. Em 4/7/21 Maria traz pela primeira vez, aspectos relacionados às suas vivências de racismo e suas repercussões emocionais. Relatou: Meu papel sempre foi mais de escutar e não de falar e isso me incomoda, e eu sempre sou interrompida se tento falar… Muitas coisas eu não percebia… Traz nesse momento episódio da infância em que a mãe tentou matriculá-la numa escola e não foi aceita, por “ser neguinha”.
Depois diz que a escola quando se deu conta “quem” era a sua mãe naquela sociedade, foi falar com ela, mas a mãe não aceitou colocá-la lá… Depois na área profissional, conta que certa vez apresentava um trabalho e um colega se intrometeu e ficou paralisada, “não consegui falar nada, não me defendi…
Em 31/3/22 M-…..a maior parte das minhas lembranças de acordar, vem com um não querer levantar,… não quero acordar. Aula às 7 da manhã… Affe… Eu passei por média e perdi por falta e tive que fazer recuperação. Eu não faltava,… chegava atrasada…todas as aulas de história eram às 7 da manhã.. não gostava da escola…lá tinha coisas boas e ruins. Acho que isso me dava desconforto de não me sentir legal na escola…como se ali não fosse meu lugar..
A- Por quê?
M- Acho que eu tinha dificuldade de me relacionar com as pessoas. Sempre era solitária, tinha poucos amigos…melhorou um pouco a partir da quarta série, mas mesmo assim me sentia, assim, de fora..
A- Mas por você querer se isolar ou as pessoas não queriam estar em contato com você?
M- Acho que mais por mim mesma, eu sou difícil de me enturmar…Tem gente que chega e conversa,… eu fico afastada…eu queria me aproximar, mas a minha falta de jeito!…
A- Você se reporta ao seu jeito, e as pessoas tentavam se aproximar de você?..
M-….Que eu me lembre, não..porque..(silêncio)… Talvez tivessem preconceitos para comigo… mas isso não me passava pela cabeça… já tinha tido essa questão numa outra escola, que não quiseram me matricular porque eu sou neguinha… era escola particular, cheia de tric, tric… Segue falando que a sogra orientou ao filho a não maltratar os meninos neguinhos, e aí ele ficou matutando sobre isso…No meu caso eu só percebi isso quando adulta…nesse colégio na minha sala, de não brancos tinha eu e um colega… Eu conversava praticamente só com ele, e vice versa…Provavelmente eu vivi isso em outros colégios, minha mãe só me colocava nesses colégios porque tinham bom ensino…
A- Ela sabia que poderia ser bom, mas você teve que viver intensamente, e sem compreender direito a força desse funcionamento do racismo estrutural em que estamos ainda imersos.
M- Suspira.. Na faculdade tinha mais mistura…mas éramos poucos… Em abril 2024 Maria volta a falar da adolescência, diz que se achava um patinho feio, que os rapazes não se interessavam por ela, que várias pessoas lhe diziam que era feia,…achava que tinha alguma coisa errada com ela e atualmente acha que podia ser alguma coisa racista,…me arrumava e achava que estava bonita e… ninguém te vê?,…nem te nota?…
Contou que no intercâmbio que realizou, quando estava para voltar, lhe contaram que uma senhora do comitê ficou em dúvida se a aceitava, mas que tinha tudo dado certo, mas que nenhum rapaz a chamou para ir para a festa de formatura e que ela teve que chamar um rapaz que já tinha saído da escola,… e foi até legal!…foi interessante ela comentar isso!!
Analista- As situações de perdas e do social também influenciaram na forma como você se sentia…
(Há uma mistura das questões pessoais relativas ao desenvolvimento da personalidade e do fato de ser negra?). Como o racismo influencia na construção identitária? Seria para além do narcisismo das pequenas diferenças? Qual o peso que
tem para os indivíduos serem colocados num determinado lugar no contexto que eles vivem e ficarem aprisionados nele?

Em 7/08/24 na apresentação do trabalho da psicanalista da SBPSP e SBPSP Camp Elony Conversano, o psicanalista da SBPSPA Ignácio Alves Paim Filho trouxe um aspecto importantíssimo, que entendi assim: os analisandos nos trazem suas características individuais. (suas neuroses, por exemplo), mas trazem também aspectos do coletivo, do ancestral, no caso do racismo, que é estrutural e da ordem do social an qual todos estamos inseridos. Assim precisamos ampliar a nossa escuta para sairmos desse ponto cego em nós. Nossa formação em psicanálise é no modelo branco, para brancos. Se a descolonizarmos, (precisamos ler o que autores negros têm a nos dizer), todos sairemos ganhando. Precisamos saber o que fazemos com o racismo estruturado em nós.

Vou contar aqui um episódio que aconteceu comigo:

Eu estava caminhando numa pista de cooper há cerca de uns 4 anos. Era cedinho umas 7 h da manhã. Passei por um rapaz negro, que habitualmente não estava ali. Segui caminhando, e havia uma senhorinha que sempre estava ali usando os aparelhos de exercícios dessa pista e ela estava olhando o celular. Um pouco mais à frente, dois homens pardos, chegaram com uma Kombi. Estacionaram, desceram e me chamaram para dizer para eu ir avisar a senhorinha que ela provavelmente seria assaltada pelo primeiro rapaz. Eles não o conheciam, só acharam suspeito o jeito dele quieto sentado em um dos bancos, não estar caminhando e nem fazendo exercícios nos aparelhos.
Nessa hora, eu fiquei “encanada”, voltei, e fui falar com a senhorinha. Ela guardou o celular e eu voltei a caminhar. Quando eu estava voltando eu vi o moço “suspeito” entrando num carro. Eles falaram algo do tipo que iriam para um trabalho e eles
estavam dando carona para ele que os esperava. Nessa hora eu fiquei me sentindo muito mal, porque eu desconfiei dele. Se fosse alguém branco, será que teria ocorrido o que ocorreu?. Ele voltou outros dias. E foi para seu trabalho, com sua carona. Os outros dois homens, eu encontrei dias depois. Fui falar com eles, contei o que presenciei e inclusive da vergonha que fiquei com meu comportamento.
Quantos fatos temos: Abordagem policial à pessoas pardas ou negras por estarem com um bom carro, olhares desconfiados de comerciantes e vendedores para essas pessoas em shoppings e lojas, que se ocorre algum roubo são os primeiros a serem considerados suspeitos.
Outra paciente trouxe recentemente que numa entrevista de emprego foi elogiada, foi dito que tinha todas as características necessárias para o emprego em questão, mas escolheram uma pessoa branca. Diz: Acho que não gostaram da minha aparência e nem da minha cor. Referiu que isso já tinha acontecido outras vezes com outras entrevistas.
Ou uma paciente adolescente anos atrás que só usava o cabelo preso “por que ele era encarapinhado”. Ela tinha vergonha do seu cabelo. Chamavam de “Bombril” e isso a deixava muito triste.
O que seria isso senão manifestações de racismo estrutural.
Acredito que precisamos conversar sobre isso, entre nós psicanalistas e também conversar com a população em geral, sobre a repercussão destes aspectos na constituição da estrutura psíquica.
O que entendemos como racismo? Sabemos o que é Letramento racial?
Quem quiser conversar mais sobre isso entre em contato com o Whatsapp do GEP de Marília e Região e vamos criar uma roda de conversa sobre esse tema. Tel. (14) 996146782

Vamos!!

Rosa Maria Batista Dantas
Soteropolitana de nascimento e Mariliense de coração
Membro Associado da SBPSP
Diretora da Comunicação e Divulgação do GEP de Marília e Região
Integrante da diretoria de Cultura do GEP de Marília e Região

As principais contribuições de Thomas Ogden para a clínica psicanalítica

As principais contribuições de Thomas Ogden para a clínica psicanalítica

”Assim como oceano só é belo com o luar

Assim como canção só tem razão se se cantar

Assim como a nuvem só acontece se chover

(…) Não há você sem mim e eu não existo sem você”

Tom Jobim / Vinicius de Morais

Thomas Ogden, psiquiatra e psicanalista americano, filiado à International Psychoanalytical Association (IPA), nasceu em 04 dezembro de 1946. Mora em São Francisco, Califórnia, e ao longo desses anos trouxe uma grande contribuição para o desenvolvimento da Psicanálise ao centralizar seus estudos, questionamentos e ampliação da teoria do desenvolvimento da personalidade, da interação intersubjetiva e do processo psicanalítico. Tem um grande volume de publicações, grande parte delas traduzidas e publicadas em português, atualmente mais intensamente pela Editora Escuta com a coleção Kultur. Ganhador dos mais importantes prêmios da Psicanálise, Ogden propõe um novo olhar para o processo analítico. Seus pilares e referências teóricas são Freud, M. Klein, Bion, Tustin, Fairbairn e Winnicott. Ele é visto como psicanalista e escritor. Suas obras são muito bem escritas e de grande profundidade.

Ogden se destaca como uma das mentes mais brilhantes no cenário psicanalítico atual, com perspectivas intuitivas e profundas sobre o funcionamento e desenvolvimento mental, bem como sobre o que ocorre na relação analítica, além de ser um autor inventivo e premiado e ter da literatura e da escrita uma visão interativa bastante peculiar.

Centralizarei o relato de suas principais contribuições nos conceitos que surgem da interação dialética entre sujeito e o objeto ressaltando uma nova forma de destacar a intersubjetividade. Os sujeitos criam-se mutuamente, não há analista sem analisando e não há analisando sem analista, mesmo quando as individualidades são mantidas e consideradas. O analisando não é só o sujeito da investigação, o analista compõe essa investigação, é sujeito dela também quando empresta suas rêveries advindas de seu posicionamento vindos do senso de vitalidade e desvitalização de ambos. Talvez esse seja o ponto nodal do processo analítico. Ela está nos bastidores de todos os momentos da sessão. Ogden dá grande importância à experiência de estar vivo e que as palavras e a escrita estejam vivas também. E em constante movimento, quando a dupla está estagnada a possibilidade de transmitir o sentido da experiência humana fica estagnado também.

O objetivo da tarefa no processo analítico, na escrita e na busca pelas palavras é usar a linguagem para aprimorar a tradução da experiência humana, poder captá-la em graus mais profundos. Não é falar, escrever ou psicanalisar sobre, mas é o esforço de criação da experiência de vitalidade humana. A vitalidade precisa ser vivenciada. Com essa vitalidade o analista tenta se manter inconscientemente receptivo para desempenhar papéis na vida inconsciente do analisando. Ele dá uma parte de sua individualidade que nasce de ambos.

Requer um grande investimento de ambas as partes. Disso depreendemos a ideia da enorme importância que é tornar-se um analista constantemente. Adquirir uma possibilidade de ser um determinando analista para cada analisando.

 “Aprender a falar com a própria voz e com as próprias palavras requer que a pessoa aprenda a ouvir e a usar os sons vivos da fala”. 

E direcionando para aquele paciente.

Esse desafio, a fala humana viva, é difícil de ser adquirida para analisar, escrever e falar. Para Ogden, o que faz abrir um abismo entre o par analítico é o impedimento de ouvir de modo imaginativo e livre os pensamentos, sentimentos e sensações inconscientes de ambos. O esforço embutido na tarefa analítica é a tentativa do par para ajudar o analisando a se tornar humano em um sentido mais amplo. Ele atribui esse esforço entre as poucas coisas que pode ser mais importante do que a sobrevivência.

Em sua visão, toda forma de psicopatologia em geral pode ser vista como a incapacidade de crescer. De vir a ser plenamente de uma maneira que pareça real. A experiência de não crescer, não mudar, não se tornar, é um estado de ser no qual a pessoa é incapaz de sonhar, de se engajar em um trabalho psicológico inconsciente e consequentemente incapaz de imaginar a si mesmo, de imaginar a si mesmo na existência. Em outras palavras, uma medida significativa da gravidade da doença psíquica é o grau em que o tornar-se cessou.

A experiência de ser e tornar-se em saúde é uma qualidade fundamental de estar vivo desde o início até o fim da vida.

Cibele di Battista Brandão é membro efetivo e analista didata da SBPSP e membro titular do GEP Marília e Região. 

Imagem: Shutterstock 

As opiniões dos textos publicados no Blog da SBPSP são de responsabilidade exclusiva dos autores.

PASSAGENS PEDEM PRESENÇA

“Faça uma lista dos grandes amigos
Quem você via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você não encontra mais…”
(Osvaldo Montenegro)

  28 de maio de 2022 vivemos no Núcleo de Psicanálise de Marília e Região um momento muito importante!

Voltemos um pouco…

Em março de 2020 foi decretado: todos isolados, a força brutal da vida e da morte se apresenta de modo real! Um golpe profundo em nosso eu! Parecia que a capacidade de sonhar havia sido extinta de nossas vidas, perdemos o
paladar, o olfato, o ar que respiramos, força da vida, ficou perigoso e raro, trazia com ele algo letal! Nossos medos mais arcaicos foram re-ativados. O cuidado com o outro era necessário, descobrimos nossa força destrutiva, mas,
também tivemos a oportunidade de sentir em tom maior nossa força amorosa. O medo de enlouquecer e cair no vazio psíquico nos assolava.

No início de maio de 2022, nossa querida colega, Cássia Teixeira Assef, nos faz um convite. “Quero presença, de corpo e alma, na apresentação do meu relatório”! Assim voltamos a sentir sentimentos antigos, guardados em nós,
aguardando a hora de voltar para o presencial. Sentimentos que um abraço, um aroma, um olhar ao vivo, há muito tempo não experimentávamos.

A jornada para o vir-a-ser um psicanalista é longa, árdua, cheia de flores e espinhos. A passagem é sempre brindada entre grandes amigos que fazemos ao longo dessa caminhada. Havíamos perdido isso, o ritual de passagem
acontecia virtualmente, mas, não tinha o mesmo sabor, a mesma cor, as sensações ficavam prejudicadas pela falta de corpo.

Neste encontro, alguns de máscara, outros sem máscara, cada um voltando à vida de um modo muito singular, mas algo ali era comum a todos. O olhar, que não estava ofuscado pelas lentes de uma câmera, olhares vivos, vibrantes, que comprovava, estamos vivos, pulsão de vida sobrepujando pulsão de morte!

Foi inevitável sentir a ausência dos que tanto sonharam com essa volta, mas a força da natureza humana não os permitiu estar lá, presentes concretamente, a morte foi soberana! Nosso querido José Antônio Pavan que sonhou concretizar um espaço para a “Sede no Núcleo” deixou para nós a base, a fundação! Agora nos resta levantar paredes que possam conter esse sonho tão sonhado. As ausências foram presença viva neste encontro.

Dr. Alfredo Colucci, representante de todos os pioneiros, com sua habitual generosidade trouxe sua presença marcante, conduzindo-nos ao caminho da fé e esperança, reacendendo em nós uma chama para a vida psicanalítica.

O Núcleo, um lugar que alberga nossos sonhos de vir a ser psicanalistas, lugar de muitas lutas e conquistas, neste dia 28 de maio de 2022, nos acolheu em seu berço para receber uma analista, que nos apresentou um trabalho primoroso, cheio de vida e de verdades, que nos impulsiona a seguir confiantes de que um(a) analista é aquele(a) que sem medo vive um encontro de almas, correndo riscos, se embrenhando por lugares nunca visitados em nós e em nossos analisandos.

Uma data memorável, que venham outros encontros de corpo e alma!!

Maria Inês Alves

Membra filiada da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e membra agregada do Núcleo de Psicanálise de Marília e Região.

Resumo: A Psicanálise diante do racismo: um olhar sobre o racismo sofrido pela população negra no Brasil

Evaldo Ferreira da Silva

No final de 2021, o Curso de Formação em Psicoterapia Psicanalítica formou o aluno Evaldo Ferreira da Silva, que desenvolveu uma pesquisa bibliográfica sobre o racismo sofrido pela população negra no Brasil, sob orientação da professora Vânia Maria  Martins Lopes. A seguir, conferimos um breve resumo de seu trabalho.

No Brasil, o racismo está presente no nosso cotidiano. Ele não é assumido socialmente, mas é aceito e há silêncios a respeito, decorrentes de razões distintas ou até contraditórias. Esses silêncios, quando não fortalecem o racismo, o mantém, pois resultam no não enfrentamento. E diante de lamentáveis episódios de racismo noticiados ou  presenciados, pouco ou quase nada vemos no sentido da mobilização da sociedade e das instituições. Temos, por vezes, comoção, entretanto  em geral estas  não chegam a romper o imobilismo, assim se perdem, se esvaziam, sendo pouco ou nada valorizadas num eventual e possível processo de desconstrução de preconceitos raciais enraizados.

Almeida (2019) compreende o racismo como ideologia que molda o inconsciente. Assim, independe de uma ação consciente para existir, já que ele é estrutural, abrangendo economia, política e subjetividade. No senso comum é frequente interpretações equivocadas  sobre racismo,  sendo também frequente, vítimas de racismo não serem compreendidas nas suas queixas e suas dores.  Discorremos a seguir sobre três concepções de racismo as quais Ameida (2019) traz  distinções.

Individualista: É a mais corriqueira, e para quem assim o concebe, entende o racismo como um ato, que está sempre vinculado ao ato, deliberadamente, desse modo é resultado de uma ação de um indivíduo, ou de grupos de indivíduos. Na concepção individualista, o racismo é uma anormalidade.

Institucional: Não se manifesta apenas a partir de atos individuais. Basta apenas não tomar ações necessárias para coibir, como por exemplos o silenciamento, salário menor para o homem negro, e menor ainda para a mulher negra, pois as instituições nos seus modos de funcionamentos criam condições para que isso ocorra e  permaneça.

Estrutural: É estrutural porque integra a organização econômica e política da sociedade de forma inescapável, fornecendo assim o sentido, a lógica e a tecnologia para a reprodução das formas  de desigualdade e violência que moldam a vida social contemporânea. É então uma decorrência da própria estrutura social, ou seja, do modo “normal” com que se constituem as relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares, não sendo uma patologia social e nem um desarranjo institucional, pois os comportamentos individuais e processos institucionais são derivados de uma sociedade cujo racismo é regra e não exceção.  O racismo não é só violência, ele forma os indivíduos, as instituições, cria cenários, com atores e papeis outorgados. Assim o racismo  não é uma anormalidade, exceção, mas algo que se constitui enquanto um parâmetro normalizado nas relações. Diante disso, ocorre uma acomodação, naturalizamos e aceitamos os papeis socialmente   construídos.  Para Schucman (2008) o racismo é estrutural e estruturante da subjetividade, pois o branco tendo se colocado à parte das questões raciais, ficou como um padrão universal de norma e normalidade, ocorrendo inclusive, o que Bento (2002) denominou de pactos narcísicos da branquitude, por isso haver entre outras coisas,  negação da problemática do racismo, alianças inconscientes intergrupais,  manutenção do poder e privilégios brancos.

Diante de toda a complexidade do que é o racismo, para ser antirracista é necessário um conhecimento sobre racismo e é fundamental perguntar-se. O que tem de racista em mim? Para assim reconhecer e ser possível uma mudança, uma transformação, segundo Paim (2020), sendo necessário para isto, olhar a branquitude por um viés crítico. A pesquisadora Lia Vainer Schucman, traz em seu trabalho “Teorias críticas da branquitude”  uma descrição    a respeito da brancura construída socialmente, como um lugar de poder e privilégios, citando entre outros autores,  RAMOS (1957) “A patologia do branco brasileiro”, compreendendo como uma patologia, o que fora acontecendo historicamente, de o branco estudar o negro como objeto negro, devido à construção social de que ele branco é universal, e os demais têm raça.

Pesquisamos na Revista Brasileira de Psicanálise, no período de 2009 a 2021 (disponível no site da FEBRAPSI), os artigos publicados sobre, cujo resultado discorremos a seguir, de  maneira a ilustrar bem:  Em 2009,     2010, 2011 e 2012, não houve nenhum artigo publicado pela Revista Brasileira de Psicanálise. Em 2013 houve um. Em 2014, 2015, 2016, 2017 e 2018, novamente não houve nenhum. Em 2019 houve um. Em 2020 foram três. Uma observação: além desse resultado, encontramos também um artigo não sobre sobre racismo, mas sobre adoção inter-racial. A pouca quantidade de artigos publicados, bem como os hiatos entre eles nos fez pensar e nos perguntarmos: se o racismo permeia e rege relações huamanas no nosso cotidiano, se temos episódios e mais episódios de racismo, e desdobramentos  como, mortes, adoecimentos, injustiças de todas as ordens, exclusões, incompreensões, violências, traumas psíquicos e físicos… por quê o racismo não tem sido objeto de interesse para estudo, no âmbito psicanalítco? Por quê os silêncios? Ainda que atualmente percebe-se alguma mudança, há muito o que avançar, pois “ sendo poucos os trabalhos, são menos ainda, os com especificidades” Paim (2020).  Curiosamente, a primeira tese de mestrado no Brasil a abordar sobre o racismo é de Virgínia Bicudo, cuja tese só foi publicada 65 anos mais tarde e, apesar de todo o seu pioneirismo, importância e contribuições para a Psicanálise no Brasil, e de muito ter contribuído para difundí-la, Virgínia sofreu uma invisibilidade, segundo Pereira (2018),  não tendo havido uma valorização de suas produções dentro da bibliografia psicanalítica acadêmica, o que Conceição (2020), chamou de apagamento da história, por causa do racismo e machismo existentes na nossa sociedade.

Este trabalho nos possibilitou caminhar para um letramento racial, uma alfabetização  sobre racismo, de modo que conseguimos aprender sobre  o que é o racismo estrutural, que ele estrutura nossa subjetividade, e ter podido caminhar para ter  consciência racial  fica evidente que “o racismo ocorre porque o branco precisa do negro  como depositário” Paim (2020),  que os psicanalistas brancos, precisam dar conta disso primeiro em si, para num segundo momento dar conta disso no outro,  que a branquitude como um lugar de poder traz privilégios, que geralmente as conquistas são  compreendidas apenas como uma questão de mérito, e não de uma sociedade que privilegia o branco e exclui o negro, e que portanto numa sociedade racista, não há democracia. 

O trabalho completo pode ser consultado na Biblioteca “Alfredo Menotti Colucci” do Núcleo de Psicanálise de Marília e Região. Agende sua visita! Para mais informações: biblionpmr@gmail.com ou (14) 3413-3307 – (14) 99614-6782.

 

SILVA, Evaldo Ferreira. A Psicanálise diante do racismo: um olhar sobre o racismo sofrido pela população negra no Brasil. 2021. Monografia (Especialização) – Curso de Formação em Psicoterapia Psicanalítica, Núcleo de Psicanálise de Marília e Região, Marília, 2021.

Vocês podem ver também sobre o tema na biblioteca em:

PAIM FILHO, I. A. Racismo: por uma psicanálise implicada. Porto Alegre: Artes & Ecos. 2021, 79p.

Evaldo Ferreira da Silva – CRP 06/136087

Psicólogo pela FAP – Tupã – SP
Formação em Psicoterapia Psicanalítica pelo NPMR
Membro agregado do NPMR

Um olhar que toca

Anete Maria Francisco*

Olhares
Que tocam
Que falam
Que eternizam.
Vejo meus olhos
Nos seus olhos!

É assim, nesse primeiro olhar que o bebê começa seu desenvolvimento psíquico. Como nos diz Winnicott (1971), para que este pequeno ser possa nascer psiquicamente e possa “se ver” precisa primeiro “ser visto”.

E é a mãe que oferece esse primeiro olhar ao seu bebê. Não apenas vê-lo como ao chegar em seus braços pela primeira vez: “que lindo você é meu filho!”, mas um olhar que embala, que aconchega, que supre suas necessidades.

Chegastes tão pequenino
Nesse mundo imenso
Buscando alegria e peito
Para um dia crescer
E correr o mundo!

A mãe é o primeiro vínculo do bebê com o mundo externo. É essa relação da mãe com seu bebê, esse primeiro vínculo, que possibilita que ele vivencie novas relações ao longo de seu caminhar na vida,    de um estágio de dependência absoluta, passando pela dependência relativa rumo a uma independência relativa. Relativa porque é na relação com o outro que nos constituímos como sujeitos que somos.

Para que isso ocorra é fundamental um ambiente facilitador que permita a esse bebê amadurecer e se desenvolver.

A mãe “suficientemente boa” é aquela capaz de reconhecer e atender as necessidades de seu bebê em tal estado de identificação com ele que experimenta uma devoção ímpar.

O bebê necessita desses primeiros cuidados intensivos devido ao seu estado de dependência absoluta e é afetado pelo tipo de cuidado que recebe ao ser acariciado, ao ser trocado, ao ser amamentado, ao ser limpo, ao ser visto. Essa é a capacidade da mãe de “sonhar” o “sonho” de seu bebê, segundo Bion (1962), captando o que se passa com ele mais pela intuição do que pelos sentidos.

Um choro pode ser apenas fome, mas pode ser um pedido para ser visto, para ser embalado. Ter a capacidade e a tolerância para aguentar este estado inicial com seu bebê, faz a mãe “suficientemente boa” criar este ambiente facilitador que consiga dar contorno e amparo para o bebê.

Ao embalar, ao amamentar, ao cuidar do bebê, a mãe o ampara e o protege, pode ir “contendo” aquele pequenino ser para que ele possa vir a ser no mundo.

Um olhar de ternura
Um olhar de medo
Um olhar de “vou dar conta?”
Um olhar de persistência
A procura de novos caminhos…
Um olhar que acalma
Um olhar que cuida
Um olhar que tolera
Um olhar que vê o outro.

Referências:
Bion, W. (1962). O aprender com a experiência. Rio de Janeiro: Imago, 1991.
Dias, E. O. (2017). A teoria do amadurecimento de D.W. Winnicott. 4ª edição, São Paulo: DWW Editorial.

Haudenschild, T. R. L. (2015). O primeiro olhar. Desenvolvimento psíquico inicial, déficit e autismo. São Paulo: Escuta.

Winnicott, S. W. (1971). O papel de espelho da mãe e da família no desenvolvimento infantil. In: O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

Anete Maria Francisco / CRP 06/129513

Psicóloga pela Unimar
Formação em Psicoterapia Psicanalítica pelo NPMR
Membro agregado do NPMR
Auxiliar do Serviço de Orientação e Encaminhamento do NPMR

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