Nós da Comissão de Informática do Núcleo de Psicanálise de Marília e Região, gostaríamos de convidar a todos vocês Membros Agregados e Filiados ao NPMR a comporem nosso blog cultural nos enviando através do email blog@psicanalisemarilia.com.br. 
Serão permitidos textos espontâneos, literatura, poesias, crônicas, etc, apartidários e não religiosos para termos mais uma página da nossa história dentro da Psicanálise. 
Contamos com vocês!

Saudação aos formandos do CFPP – XIII Turma 2022/2023

Boa noite a todos!
Cumprimento o Conselho Diretor do GEP Marília e Região, Formandos, Senhores Pais e Amigos aqui presentes.
Nesta cerimônia de hoje dirijo-me especialmente aos formandos que nessa noite cumprem a etapa de conclusão do Curso de Formação de Psicoterapia Psicanalítica. Essa é a 13º turma que se forma conosco. A vocês espero dirigir algumas poucas palavras que possam acompanhá-los, e servir de pontos de reflexão em seus caminhos na busca do vir a ser de cada um.
São palavras nos moldes daquelas que nós um dia já dissemos aos nossos filhos quando esses alcançam seus voos. Queremos que levem algo não como regra ditada de forma rígida, mas reflexões que levarão na mala vindas de
nossos corações quando podemos dizer: – Confesso que vivi. E nesse viver aprendemos que a busca do conhecimento, do estudo é uma tarefa que não tem fim. E assim digo-lhes que um de meus votos para vocês é que saibam que nossa busca é constante. Somos eternos estudantes. Há um ensinamento na música de Wagner Tisso e Milton Nascimento que em ocasiões como esta nunca deixamos de nos lembrar – Coração de Estudante –, é uma canção que fatalmente vem a nossa memória. Em uma das estrofes dessa verdadeira poesia eles dizem: “Mas renova-se a esperança, nova aurora a cada dia. E há que se cuidar do Broto. Para que a vida dê flores e fruto.”

Desejo que vocês possam sempre estarem atentos para identificar um Broto que apareça e que pode ser que venha de várias partes – De suas metas profissionais, de seus relacionamentos, projetos e sonhos. Cuidem bem dos Brotos – eles nos dão flores e frutos. Sua decisão de formar-se como um psicoterapeuta psicanalítico possivelmente veio de vários motivos – Tanto
de conhecer-se melhor como ser humano, como conhecer também melhor cientificamente o ofício e exercer a profissão com mais segurança. Isso lhe proporcionará a chave de aprendizado durante toda a vida e seria interessante sempre reservar um tempo para descobrir muitas formas de compreensão da mente humana – Temos uma infinidade de autores, de assuntos nos esperando para serem descobertos por nós. Estude sempre muito, a vida inteira. Trabalhe muito também. Aí estará sua experiência. É um ofício que não tem meio termo. Você tem que fazer uma imersão.

Aprender com seus mestres, aumentar a chance de você ir construindo uma maneira própria de ser e pensar – essa é a meta.
Procure sempre fazer parte de uma instituição- dedique tempo para sua profissão. E não fique sozinho. Participe junto a seus pares. Mas dedique tempo principalmente para sua vida como um todo. Divirtam-se. Tanta coisa existe para ler, ouvir, assistir e em nossa profissão há algo tão interessante – conforme você se diverte, tem momentos de prazer, encontra bons amigos,
bons amores, bons lugares para conhecer, tudo reverte em maior aprendizado sobre o ser humano e consequentemente tudo isso amplia sua escrita, sua compreensão analítica quando estiver trabalhando. Cuide então de seu estudo, sua diversão e vivência e cuide de seu corpo. Ele tem uma tendência natural ao sedentarismo em função do ofício. Precisa ser cuidado, mesmo porque é uma profissão que lhe permite trabalhar até numa idade mais avançada, por isso prepare-se para aproveitar o tempo maior que lhe espera. Ao estar saudável, o tempo útil da vida profissional aumenta.

Por fim gostaria de ressaltar que há um modelo de formação psicanalítico que usamos dentro de nossas instituições que não é o único, mas é o mais praticado por nós que se chama Modelo Eittingon. Esse modelo aponta que um tripé na formação:

  • Análise pessoal;
  • Supervisões;
  • Seminários.
    Mesmo que você não siga uma formação psicanalítica clássica, lembre-se de estar atento a essas três necessidades:
  • Seminários;
  • Cuidar da mente;
  • Cuidar de seu desenvolvimento profissional;
  • Estudar – evoluir teórico e clinicamente.
    Finalizo saudando todos vocês! Parabéns aos Docentes, aos nossos
    funcionários e seus familiares e; principalmente parabéns para vocês
    queridos formandos por essa conquista!
    Últimas palavras, empresto as de Cecilia Meirelles:

Renova-te
Sê sempre o mesmo
Sempre outro
Mas sempre alto
Sempre longe
E dentro de tudo

Cibele Maria Moraes di Battista Brandão
Presidente do Grupo de Estudos
Psicanalíticos de Marília e Região

As principais contribuições de Thomas Ogden para a clínica psicanalítica

As principais contribuições de Thomas Ogden para a clínica psicanalítica

”Assim como oceano só é belo com o luar

Assim como canção só tem razão se se cantar

Assim como a nuvem só acontece se chover

(…) Não há você sem mim e eu não existo sem você”

Tom Jobim / Vinicius de Morais

Thomas Ogden, psiquiatra e psicanalista americano, filiado à International Psychoanalytical Association (IPA), nasceu em 04 dezembro de 1946. Mora em São Francisco, Califórnia, e ao longo desses anos trouxe uma grande contribuição para o desenvolvimento da Psicanálise ao centralizar seus estudos, questionamentos e ampliação da teoria do desenvolvimento da personalidade, da interação intersubjetiva e do processo psicanalítico. Tem um grande volume de publicações, grande parte delas traduzidas e publicadas em português, atualmente mais intensamente pela Editora Escuta com a coleção Kultur. Ganhador dos mais importantes prêmios da Psicanálise, Ogden propõe um novo olhar para o processo analítico. Seus pilares e referências teóricas são Freud, M. Klein, Bion, Tustin, Fairbairn e Winnicott. Ele é visto como psicanalista e escritor. Suas obras são muito bem escritas e de grande profundidade.

Ogden se destaca como uma das mentes mais brilhantes no cenário psicanalítico atual, com perspectivas intuitivas e profundas sobre o funcionamento e desenvolvimento mental, bem como sobre o que ocorre na relação analítica, além de ser um autor inventivo e premiado e ter da literatura e da escrita uma visão interativa bastante peculiar.

Centralizarei o relato de suas principais contribuições nos conceitos que surgem da interação dialética entre sujeito e o objeto ressaltando uma nova forma de destacar a intersubjetividade. Os sujeitos criam-se mutuamente, não há analista sem analisando e não há analisando sem analista, mesmo quando as individualidades são mantidas e consideradas. O analisando não é só o sujeito da investigação, o analista compõe essa investigação, é sujeito dela também quando empresta suas rêveries advindas de seu posicionamento vindos do senso de vitalidade e desvitalização de ambos. Talvez esse seja o ponto nodal do processo analítico. Ela está nos bastidores de todos os momentos da sessão. Ogden dá grande importância à experiência de estar vivo e que as palavras e a escrita estejam vivas também. E em constante movimento, quando a dupla está estagnada a possibilidade de transmitir o sentido da experiência humana fica estagnado também.

O objetivo da tarefa no processo analítico, na escrita e na busca pelas palavras é usar a linguagem para aprimorar a tradução da experiência humana, poder captá-la em graus mais profundos. Não é falar, escrever ou psicanalisar sobre, mas é o esforço de criação da experiência de vitalidade humana. A vitalidade precisa ser vivenciada. Com essa vitalidade o analista tenta se manter inconscientemente receptivo para desempenhar papéis na vida inconsciente do analisando. Ele dá uma parte de sua individualidade que nasce de ambos.

Requer um grande investimento de ambas as partes. Disso depreendemos a ideia da enorme importância que é tornar-se um analista constantemente. Adquirir uma possibilidade de ser um determinando analista para cada analisando.

 “Aprender a falar com a própria voz e com as próprias palavras requer que a pessoa aprenda a ouvir e a usar os sons vivos da fala”. 

E direcionando para aquele paciente.

Esse desafio, a fala humana viva, é difícil de ser adquirida para analisar, escrever e falar. Para Ogden, o que faz abrir um abismo entre o par analítico é o impedimento de ouvir de modo imaginativo e livre os pensamentos, sentimentos e sensações inconscientes de ambos. O esforço embutido na tarefa analítica é a tentativa do par para ajudar o analisando a se tornar humano em um sentido mais amplo. Ele atribui esse esforço entre as poucas coisas que pode ser mais importante do que a sobrevivência.

Em sua visão, toda forma de psicopatologia em geral pode ser vista como a incapacidade de crescer. De vir a ser plenamente de uma maneira que pareça real. A experiência de não crescer, não mudar, não se tornar, é um estado de ser no qual a pessoa é incapaz de sonhar, de se engajar em um trabalho psicológico inconsciente e consequentemente incapaz de imaginar a si mesmo, de imaginar a si mesmo na existência. Em outras palavras, uma medida significativa da gravidade da doença psíquica é o grau em que o tornar-se cessou.

A experiência de ser e tornar-se em saúde é uma qualidade fundamental de estar vivo desde o início até o fim da vida.

Cibele di Battista Brandão é membro efetivo e analista didata da SBPSP e membro titular do GEP Marília e Região. 

Imagem: Shutterstock 

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